ARTIGO DE OPINIÃO

A fotografia e a comunicação pela arte

ARTIGO ESCRITO POR HENRIQUE SILVA

FEVEREIRO, 2023

Desde Niépse, no século XIX, que a fotografia foi sempre um meio de comunicação ao mesmo título das artes ditas plásticas em qualquer das formas de conteúdo, mesmo como reportagem, retrato ou outras, destacando-se nas artes como elemento primeiro complementar para mais tarde adquirir o seu estatuto de forma de arte.
A diversidade, hoje, de formas de expressão artística torna as definições tradicionais, como escultura, pintura, desenho, música ou literatura, obsoletas como definições verticais, já que as formas criativas utilizadas pelos criadores são de tal modo abrangentes que os nosso sentidos perceptivos, como ver, ouvir, sentir, comunicar, etc., são tocados simultaneamente numa sensação vertical e horizontal, sobretudo com o uso do digital e computacional.

A capacidade de leitura e interpretação de factos ou obras está inteiramente dependente do conhecimento adquirido através dos tempos, que nos serve de “dicionário” para interpretar e classificar cada relação entre o sujeito e o objecto, facto subjacente à nossa memória que funciona como um computador que reage em função das informações que lhe são introduzidas, e que descodificadas permitem activar a imaginação e a criatividade.
A quantidade de informação armazenada determina o grau de cultura do seu possessor, que será mais ou menos produtiva segundo a capacidade dedutiva desse mesmo possessor, atribuindo-lhe a definição de “inteligente”, válida no bom ou no mau sentido segundo os valores defendidos pela sociedade onde esse possessor está inserido, variando segundo a sua situação geográfica, credo ou tradição, mas tendencialmente versátil  segundo as influências que vai recebendo do exterior, variáveis no tempo, entre o passado e o futuro num tempo real que evolui como se o tempo presente seja vivido estrangulado entre esse passado e esse futuro, sem espaço próprio cujas referências se diluem entre a análise de um para ser reflectido no outro, perdendo assim o seu próprio espaço.

Voltando ao tema da comunicação, as linguagens usadas pelos variados grupos sociais e etários são determinantes para que os sinais emitidos pelo emissor sejam perceptíveis pelo receptor da mensagem, assim como o grau de cultura de cada, mesmo que sejam sons, gestos ou indícios, tornando assim as mensagens descodificáveis e propensas a influenciar o receptor. Este facto é sobretudo fulcral quando se trata da comunicação através de uma obra de arte, onde mesmo um sujeito com um grau de cultura elevado pode não ter capacidade de “ler” esse objecto, já que a sua própria linguagem não se harmoniza com o discurso.
Aqui entra a fotografia como modo de comunicação ao mesmo título da fala, da escrita ou do som, e cuja técnica se desenvolveu e popularizou de tal forma que é quase impossível definir o que é reportagem, cinema ou vídeo, exercício estético ou pura linguagem plástica, para se tornar no meio mais direto e acessível da comunicação.

Quem não faz fotografia hoje? Só quem não sabe falar...


HENRIQUE SILVA
Artista plástico, Henrique Silva foi director executivo da Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas (Porto) de 1978 a 1995, e presidente da Projecto - Núcleo de Desenvolvimento Cultural. É cofundador da Fundação da Bienal de Arte de Cerveira, na qual a assume a presidência do Conselho de Fundadores e Conselho Científico. É director do Curso Superior de Artes e Mutimédia da Escola Superior Gallaecia, desde 2009. É sócio honorário da Sociedade Nacional de Belas Artes desde 2010 e da Cooperativa Árvore.
Foi bolseiro da Fundação Gulbenkian em Paris de 1961 a 1963, frequentando a École Superieur de Beux-Arts de Paris.  Licenciou-se pela Universitée de Paris VIII, em 1977, em Artes Plásticas para o Ensino, tendo-se doutorado em Média-Arte Digital na Universidade Aberta e Universidade do Algarve em 2015.
Como director geral e pedagógico da Escola Profissional de Economia Social em 1989/91 e 1998/2000, participou em seminários e reuniões internacionais em Varsóvia (1983), Bruxelas (1986) e Creta (1987), entre outras, sobre políticas de desenvolvimento territorial e cultural.
Conta com mais de 50 exposições individuais e 200 colectivas realizadas em diversos países, nomeadamente, Portugal, Espanha, França, Bélgica e Estados Unidos.

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