AUSCHWITZ: TRAÇO(S) DE UMA HERANÇA

Auschwitz: Traço(s) de uma herança é um projeto que utiliza a fotografia como meio de criar uma ligação entre o passado, o presente e o futuro.
Manter viva a memória apela à reflexão e à vigilância e incentiva o empenhamento das gerações futuras, para que, através delas, possam ecoar as vozes dos sobreviventes, que em breve deixarão de ser ouvidas.
Conhecemos a história, vimos os filmes e lemos os livros. Sempre nos disseram que Auschwitz é o verdadeiro símbolo do Holocausto, uma vez que ali foram assassinados mais de um milhão de judeus. Uma fábrica de matar pessoas! Ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová e dissidentes políticos também sofreram neste lugar sombrio.
Lemos sobre as experiências hediondas levadas a cabo por Mengele em Auschwitz. Vimos fotografias dos sobreviventes, dos cadáveres, dos crematórios, dos objectos pessoais abandonados. Iniciámos a nossa viagem à Polónia com o pensamento de que estaríamos preparados para enfrentar o centro interpretativo do Holocausto e, através dele, encontrar a resposta à nossa inquietação: como é que isto foi humanamente possível?
Durante a viagem, voltámos a visitar aqueles com quem já tínhamos partilhado o sentimento do campo de concentração. Todas as páginas, testemunhos e rostos permaneceram bem vivos na nossa memória.
Chegámos, a presença em Auschwitz ultrapassa-nos!
Nenhuma memória, lida, estudada, vista ou ouvida pode ser comparada com o facto de estarmos ali mesmo. No silêncio ensurdecedor daquele lugar, que carrega em si a imensa perda do sentido humano, ganha força a pergunta de Theodor Adorno: Como é possível fazer poesia depois de Auschwitz?

Apoio científico e documental | Carla Barbosa

Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos não nos escutarão, e se nos escutassem, não nos perceberiam.
[Primo Levi]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

As roupas, mesmo aquelas imundas, são uma defesa ténue mas indispensável. Quem não as tem não se identifica a si próprio como ser humano, mas como um verme: nu, lento, ignóbil, rastejante. Sabe que poderá ser esmagado a qualquer momento.
[Primo Levi]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Quando me perguntam quanto tempo estive em Auschwitz, a minha resposta é que não sei. O que sei é que um minuto em Auschwitz era como um dia inteiro, um dia era como um ano, e um mês era a eternidade. Quantas eternidades cabem na vida de um homem? (…)
[Roman Kent]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Isto é o inferno. Hoje, nos nossos dias, o inferno deve ser assim, um local grande e vazio(…). Como pensar? Já não se pode pensar, é como já estar morto.
[Primo Levi]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

A razão, a arte, a poesia, não ajudam a decifrar o lugar de onde foram banidas. Na vida quotidiana de “lá”, feita de tédio, constelada de horror, era salutar esquecê-las, do mesmo modo que era salutar aprender a esquecer a casa e a família.
[Primo Levi]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

É a esperança que conduz os homens passivamente até às câmaras de gás, que os impede de planear a revolta. A esperança leva-os a lutar por cada dia suplementar, porque poderia ser precisamente esse dia, o dia da liberdade. (…) Não nos ensinaram a renunciar à esperança.
[Tadeus Borowski]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Primeiro, tivemos que tirar a roupa toda. As roupas eram atiradas para uma pilha, os sapatos para outra, os papéis e objetos de valor mais adiante; fomos, então, andando para outra sala, completamente despidos.
[Jacob Hennenberg]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Olhei à minha volta e vi jovens com tesouras nas mãos, a cortar o cabelo bem rente ao couro cabeludo. Sentei-me num banco, tentando convencer-me de que isso não é nada. Mas quando senti o frio da tesoura na cabeça, e o meu cabelo começou a cair lentamente, não pude evitar que as minhas lágrimas caíssem juntamente com os meus cachos pretos.
[Anna Heilman]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Em menos de dez minutos, todos os que éramos considerados úteis ficamos reunidos em grupo. O que aconteceu aos outros, às mulheres, aos velhos e às crianças não o soubemos, nem antes nem depois: a noite engoliu-os, pura e simplesmente.
[Primo Levi]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Sou um otimista crónico e incorrigível, pois ao passar por tudo isto e tendo sobrevivido, que mais me podia acontecer?!
[Leon Weintraub]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

O S.S. veio ao nosso encontro, cassetete na mão, e ordenou: - Homens à esquerda! Mulheres à direita! - Quatro palavras ditas tranquilamente, com indiferença, sem emoção. Palavras curtas, simples. Foi nesse instante que me separei para sempre da minha mãe.
[Elie Wiesel]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal

Perguntei-lhe (com uma ingenuidade que poucos dias depois já me devia parecer fabulosa) se nos iam devolver, pelo menos, as escovas dos dentes.
[Primo Levi]

Auschwitz: Traço(s) de uma herança

Auschwitz, Polónia

David Araújo | Portugal